Tuesday, November 28, 2006

Dançarina Espanhola

Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos

suas línguas de luz, assim começa

e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arcos aos trêmulos arrancos.


E logo ela é só flama, inteiramente.

Com um olhar põe fogo nos cabelos

e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,

saltam os braços nus com estalidos.


Então, como se fosse um feixe aceso,

colhe o fogo num gesto de desprezo,

atira-o bruscamente no tablado

e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,

a sustentar ainda a chama viva.

Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,

pisa-o com seu pequeno pé preciso



Rilke

tradç: Augusto de Campos

Saturday, November 25, 2006



Paixãonolina da Poesia
(para Gisele)

Os veículos das poesias movidas a paixão
Circulam nas avenidas ininterruptamente
Transitam pela contramão dos conflitos na dor
Enquanto os poemas-automóveis estacionam na mente
Esperam abastecer seu tanque-espírito de amor
Com litros inflamáveis do combustível adolescente.


Sandoval Fagundes, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

De Lúcia

Comparecimento

Compareço
do leito ou da pedra,
com pólvora em todos os sentidos.

Compareço:
gatilho na ponta dos gestos,
em fogo e bala, à espreita.

Compareço e me vou.
Aceitei por condição.
Não oculto
as linhas de loucura
que me lutam.
Rebento em pleno vôo.

Aqui estou
por própria culpa.
Possuo o desespero
residente
naquilo que construo.

Não recuo
dos deuses. Enfrento
o seu semblante satisfeito,
rejeito
a luz e o erro,
com a mesma carnação
e o mesmo jeito.

E se a recusa vier de vossa parte,
vivo em metade,
vivo separado.
Não pretendo ser salvo.
Vivo explosivo, áspero,
mas vivo.

E sou meu próprio alvo.


Carlos Nejar

Muitos Beijos Poéticamente cor de Violeta pra vc!!!






NINGUÉM É PERFEITO.

A minha imperfeição é
Não estar junto de você.
Anda.. Anda logo! Me dê uma chance.
O ano está terminando.
E meu desejo minando
e não quero que seque.


Dalberto

Sunday, November 19, 2006




Contemplo o lago mudo

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?




Gota d'água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção,
faça não

Pode ser a gota d'água
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção,
faça não

Pode ser a gota d'água
Pode ser a gota d'água

Chico Buarque (1975)

Monday, November 13, 2006

Metamorfose solta




Metamorfose solta

pobres vegetais de apartamento de raízes limitadas pelo fundo do vaso.

pobres passarinhos adestrados encarcerados num mundo pequeno sem nem um pedaço do céu.

pobres dos moradores da Barra da Tijuca cercados pelas grades de seus medos condomínicos.

pobres acadêmicotécnoletrados, de galhos podados pelo gramático jardineiro.

tadinhas das palavras de dentro do dicionário todas encostadas no muro tomando dura da polícia.

pobres dos cárceres da convicção e coitadas de todas as certezas.

dá dó dos detidos pela Colônia Penal da Realidade.

que pena dos algemados pela lucidez, escondendo a loucura por debaixo do tapete da moral.

negando a doideira como quem nega a morte.

coitados dos que cabem numa identidade, dos que cabem numa cidade, num país, num mundo!

que pena dos oprimidos pelo amor!

a existência é um mucado de nada despejado no meio de tudo...

mas se você me influenciar meu bem

eu posso virar a casaca

o mundo muda mudo o mundo muda muito rápido

e daqui há um segundo

eu posso até falar tudo isso

ao contrário.

dudu

Milagre de Ternura

Milagre de Ternura

Perto de você respiro a sua alegria

sinto o seu cheiro e a sua fantasia

meus olhos brilham de desejo
o peito palpita já não sinto saudade de nada nem ninguém
você me faz um bem enorme

a vontade de dançar e
me faz sorrir

vamos nesse embalo bom de gostar
vamos nesse ritmo frenético que nos leva ao frenesi
não vejo a hora de nos darmos bem pra sempre

nosso tempero nos completa

nossa certeza mistura calma com delícias
numa explosão de mãos dadas
somamos muitos carinhos até chegarmos aqui
navegaremos nos mares mais callientes do sul
nas milongas dos nossos beijos e abraços
promessas de mil ondas na linha da espuma
os nossos corpos nos saveiros e nas escunas
dos nossos prazeres

Milagre de Ternura
sensações que vibram
com todas as forças
mágicas do universo
o amor de nós dois

De Alfredo Herkenhoff
Todo carinho, Maris



Sunday, November 12, 2006

...pegadas de juju....




Incomensuráveis pegadas no amor
Areia brilhante de algodão e sombras
Diamantes longínquos na efemeridade da morte
Em cada poste acende noite
Doce o calor colore dedos
Concorda sentidos
Sou o que sabe ser
Trânsito de margaridas
Chá de jasmim
Alvorecer brando entende a sorte das coisas tontas
Sobrevivem as famintas gaivotas na nuvem da tua cabeça
A respiração pára
Pés consoantes rumam em direção ao desconhecido
de fazer poemas noturnos
procurando os porquês.


de Juliana Hollanda

Costureirinha





PROJETO AR DUO
por Fernanda Antoun e Alex Topini

COSTUREIRINHA



coser os homens à vida
à casa
saia dos dias
barra do tempo
o silêncio
coser o canto
a manga
o nó
modelar a fibra
ponto-a-ponto
cada peça
entre sobras o justo
o raso, o vôo
mesmo que o novelo estéreo
ainda que agulhas estanques
a ferida calo
ave lã

Um homem amando o amor sem medo

você que entra em meus sonhos...

se quiser me fazer parar, me perder
me fazer sentar e escrever ou falar
venha me fazer!
abraços, braços, boca, alívio
enigma felino
tudo numa pessoa só

são como luzes que se acendem aos poucos e não se vão
como ventos macios e lentos que perduram
e assim que vejo seus olhos,
um sorriso desconcertado me vem
porque não sei o que dizer

soluços, alegria, mãos e cabelos
abraços, braços, boca, você
tudo num instante só
tudo no momento certo em que o tempo deveria parar



de Sauloo Jacques para naira streb


Vinícius, Vinícius, Vinícius..........



Dialética


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Mortalhas da Luxúria


Sopra o ventre universal a surtar de tempos em tempos.
A de nos cobrir de beijos a boca rubra ao venerarmos a simples existência.
A essência da busca apaga as cores que me perseguiam através do caminho.
Acordo estirado a esmo em meio ao enxame de bosques anêmicos, lacrimejando orvalhos estrangulados, suando uma dor suada e comestível em um êxtase indecifrável, aonde emergem da clareira os esboços de um alvorecer decepado pelo meu grito que traduzia eu Ter achado o que sempre profetizei como herança.
A vagabundagem, a bebedeira, vários e enigmáticos delírios e finalmente a amnésia.
Minha calça e botas, para não esquecer também a camisa, são ornamentos de cinzas e manchas de dias, noites e madrugadas bem vividas. Mas, não vívidas em minha mente.
São minhas mortalhas de luxúria.
Com o olhar irônico e o corpo em mutação eu corria atrás de algo para refrescar o meu semblante que insistia em um estado frenético, nesta noite que sai para ver se a lua espelhava a terra e se a terra espelhava algum rosto.
Um rosto era tudo o que eu queria enxergar.
Para um rosto, eu tinha muita coisa a perguntar e indagar.
Ouvindo o rufar.
Sentindo o brilhar.
Olhar....

Carluxo. (registrado)

Saturday, November 11, 2006

Ele mandou bem demais!






eu tenho 30 mil alto falantes implodidos na garganta

um desejo de navalha entre os dedos

15 mil explosivos em meu

coração
eu tenho
um travesseiro pra sonhar

dois cotovelos pra me apoiar

400 trlhões de gritos entalados

27 enlatados na dispensa

uma cabeça que pensa e

um bilhão de imcompreenssões


meu corpo caminha entre os olhares feito

pedaços de unhas entre os dentes
um sorriso descontente

a gema descasca do muro
o furo no fundo do nervo
no pulso um pulo de gato
eu
tenho um poder de invenção
e um descontrole

o medo de não segurar a loucura
eu tenho 415 variedades de vícios e nunca vou negá-los
pois negar vício é se achar auto-suficiente

eu não sou auto-suficiente
eu sou o toque no outro
o toque no outro
o toque no outro
o toque no outro

de Thiago Florencio

foi no útltimo Ratos di Versos que ele surgiu e já é da casa. Escreve muito, sente muito com delicadeza e força como muitos por ali. Olhemos as pérolas que estão nas ruas. Eu o conheci num bar carioca botafogo qualquer! É Thiago! E tem muita força nas mãos das palavras. Mas olhem para baixo também! O NÚ do nosso Rato Nietzsche é desconcertante! OXALÁ! Maristela T.






Pérolas que encontro o tempo inteiro!


"é feito um prego enferrujado que custa os olhos da cara prá sair
paródia italiana de um fado,
braço arrancado que não quer sumir
é a pergunta para todas as respostas
a barraca de beijos da quermesse
é a facada que você leva pelas costas
porque merece."
Ivan Justen

Tuesday, November 07, 2006

Lúúúciiiiiiiiaaaaaaaaaa............


Livre Acesso***
Acesso o Azul que vem
de TI
Penso n'alguma coisa distante e perto
Danço em Versos
Clareio como
A madrugada que
deixa o anoitecer
Deitado; sozinho... Alvoreço!
Sonoramente esqueço!

Porque há a desmemória...

No sentido paralelo que Somos;
Nas vias transitórias por onde passamos
Um dia
Liricamente poética; Romântica e Abstrata
Trato de reinventar os meus
Dias
Minhas noites
Meus caminhos
Neles;
Sozinha!
Tudo era vidro e se quebrou...
Assim, tão de repente como um estalo!
Como um tiro
Apertei o gatilho...
Conheço bem essa
ARMA.
Fomos!
Ontem já foi;já era
Nem interessa...
Vivo do HOJE
Por isso, sou Feliz!

Lúcia Gonczy

Ser DAN


Ser fera,
ser forte,
ser rato
Roer a roupa do rei de roma em romaria na Bahia Roer,
até o último átomo o tutano do osso da vida,
na ebulição mística do dia-a-dia

Devorar,
sem dó nem piedade a lógica perversa da mediocridade média classe

Atacar, sem vergonha nem pudor,
a sanha assassina da mentalidade fria que ceifa toda beleza e poesia.

Ser fera, ser forte, ser fato
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O Homem sozinho é nada
Este só se realiza quando joga o coletivo

É na cidade que o homem é pleno, ouvindo o canto em coro das cigarras em meio ao riff das buzinas dos carros
A cidade é esse despautério, essa Amanda Petardo, uma coisa meio impalpável, abstrata, entocada ali, entre as Brumas de Àvalon e as sombras do Tártaro, mas ela existe e resiste. Brava, bruta, doce, ácida.

A vida urbana é um desafio. Ás vezes você passa noites a fio de navalha pensando em como a solidão na multidão dói mais, mas, é impossível ser pessimista com a vista do mirante do Leblon ou do Corcovado elevado aos céus. O pôr-do-sol no Arpoador, então, é um campo de força contra a melancolia. Se por acaso, porém, ela invadir seu território, lembre-se que o homem solitário é só uma palavra solta no dicionário, então....vá procurar sua turma!

O grande barato da cidade é a liberdade de impressão que ela nos dá. De experimentar as milhões de sensações que a mesma praça te passa. Assim é a cidade: ilógica e mágica, à imagem e semelhança de seu criador


Dan


-Dan-



Monday, November 06, 2006

Rilke


Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é meu açoite.

Só. da boca o que eu faço agora?
Que faço do dia, que faço da noite?

Sem paz, sem amor, sem teto,

caminho pela vida afora.

Tudo aquilo em que ponho afeto

fica mais rico e me devora.


R. M. Rilke - Tradç: Augusto de Campos

.........................................................
Com ele:

Então me devora noite e dia e
madrugadas afora sem que eu
escolha
os talheres de prata ou
mão.
Sem que eu chore lamento
ou sorriso,
só constatação. Assim,
os goles de vinho ainda
manterão
o bem-estar sem
orientar a vida.

Maristela Trindade

Nosso Rato Filosofal

MARCELO NIETZSCHE

Uma poeta se debulha esperando Isadora Duncan

Eu vi a uva
vi o vinho
eu vi
a uva no vinho
o vinho na unha
o vinho ...
eu vi no sangue
a uva, o vinho
o beijo da lágrima
eu vi
Alôôôô
te amo como não
te quero como não
te uso como não
te sonho como não
como não te amo
como não te quero
como não te abuso
como não te sonho


o des-carnado

Para Maristela, descarnado do descanado livro 20 poemas com brócolis, de Roberto Piva. Está em Obras Reunidas, volume 2.

mestre Murilo Mendes tua poesia são
os sapatos de abóboras que eu calço
nestes dias de verão.
negócio de bruxas.
o sol caía na marmita do
adolescente da lavanderia.
você veria isso com

seu olhar silvestre
um murro bem dado no virtual
que eu mai adoro.


("Eis a hora propiciatória, augusta,
A hora de alimentar fantasmas")
Murilo Mendes

nietzsche, a-correntado


POEMAS PARA RATOS (uma série)

Um poeta veste a fantasia enquanto se despe
eu corro, salto, rodopio, solto fagulhas e versos
falo a fala falada de quem fala a mesma língua
que se enrosca nas palavras e no beijo roubado
pulo pros lados, pro abraços e amassos
viro pro lado, dou pirueta e um salto mortal
mortal não; desses de circo talvez e não falo da morte
somente a da lagarta, porque depois surge a borboleta


o des-carnado
(ele existe)



Sentinela


Sentir nela,
a sentinela
de si
sinais de amor.

Deliciosa tristeza que trás prazeres de querer mais sentidos dos que já tem,
e assim
a doida acha que equilibrará os desejos
de uma poeta que
que vive por
sentir
sentir
sentir
Um bride ao morango!!! t amo

Juliana Hollanda
Óleo de Maristela Trindade