Friday, October 27, 2006

Canção de Malazartes (ela)


Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,

ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada do que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,

tiro o cheiro dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado

todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro o cheiro dos corpos das meninas sonhando.
Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada do que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado
amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo,
nada me fixa nos caminhos do mundo.

Murilo Mendes
- retrato por Guinard

Emburacada nas tuas letras


Um Poema de Amor


todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.

principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.

há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.

sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar - eu estava ocupado
com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.

todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.

essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.

poema de Charles Bukowski

Eu queria passar um tempo nessa cara esburacada sendo o ouvido e os teus sons vividos.
Às vezes eu não erro. Destruo.
Tá aí o tempo-silêncio dizendo que nada vou conseguir consertar.
Faço xixi na rua quando louca ou quando apertada
e aprendi a levantar o queixo grande apesar de me ver toda errada.
Uma errata.
Prefiro a empáfia e o comedimento de saber que fiz, por falas alheias ou pela consciência atrazada do q não fazer.
Chove nas ruas a moral dos outros, o mundo dos outros, a mentira dos outros e
eu quero sol.
Às vezes da vontade de criar vacas prá ficar levinha mas não vou.
Se eu sou a que devo idoniedade a mim,
sou também a que tem que entender que sim.
Sim: faço muita merda e voce vê.
Faço uma inesquecível deixando os vestígios
e as marcas disso tudo
sou eu mesma.
Levanto novamente o queixo camuflando arrependimento, sigo em frente, de um lado, do outro lado e vou ouvindo Tom Waits, Lou Reed, Billie, batuques muitos e pronto.
Se a bebida me deflagra rancores, pudores, recalques,
que eles saiam de mim sambando.
Eu também não desejei nenhum dos tapas na cara que levei ou dei.
Sou som e dança.
Prá que fingir o TAO de ser felíz?

Buk, voce não teria nada com isso se não fosse os
buraquinhos na cara dos teus poemas onde eu quero passar as férias.


maristela trindade

Batom


Algemas invisíveis amarrando almas
Praças e precipícios, bêbados nas madrugadas Montanhas de tédio, de prédios a fio Mentiras de saias, lagoas e praias São tolas as moças que pensam lograr Poetas e loucos conhecem o mar O amor e o amar, o ódio, o odiar As artes do homem, fingir é forjar - Amemos a nós dois como a nós mesmos Expelindo as nossas mentiras a esmo Nas loucuras da lua, nos embriagar e dançar... Façamos das nossas vidas uma singela prece Mas moça, não apresse o que é eterno Não engane o sentimento verdadeiro, fraterno - Que a sua tocaia de Puma feroz Me pegue veloz, pois eu sou bem ligeiro Trago no peito, a raça do meu Paraná E bebo a malandragem ébria do meu Rio de Janeiro
....
O LADO ESCURO DA LUA

Deixe-me ir
Sorrir pela minha solidez
Contornar o contorno
Em torno de seu coração

Pisar em terras secas
Umedecer corpos secos
Deitar em berços desconhecidos
Pulsando pálido, mirrado de amor...
-
Outono é estação das folhas
Caídas, apáticas como tu
Inverno é frieza na alma
Vento minuano a me congelar

Devastando culpas e meas verdades
Salgados enganos em perversidades
Mocidade tola deleitando o corpo
Gozando afoita, a brevidade de ser
-
Sou entre os pinheiros, o mais alto
Entre os cordeiros, o mais safo
Entre os homens, o mais devasso
Pesadelo das putas e das donzelas
-
Deixe-me ir
Navegar por outros sertões
Embriagar as multidões
Com melancolia e tristeza
-
Sou entre os que cantam, o que se cala
Entre os que silenciam, o que mais fala
Entre os perdidos, o que se encontra
Eu sou a ponta da faca no peito, eu sou a ponta

Polak Poeta

Tuesday, October 24, 2006

Esse homem é MUITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



esssa vida tão longe do mundo
meu tudo
esse tudo tão longe do dentro
meu eu
obscuro
tanto dentro
tanto tudo
tão longe tão fundo

quanto viver cabe nessa dor
mesmo que seja a sorte uma morte
quanto prazer seja onde for
pra que a vida reste mais forte

no presente me planto
viver mesmo que doendo
morrer sempre que gozando.

para maris..............sp 17.10.06

Wednesday, October 18, 2006

eu abalo CÍSMICO, voce minha SISMA


eu preciso beijar voce deitar voce, me dar voce desvendar sua geografia perder a ironia de não te saber de cor se meu espelho me revela na calcinha vermelha encharcada de tudo que dentro em mim treme. Treme e torce líquidos que quase me afogam e se a minha fisiologia ainda não cometeu tal delito é porq expulsa o excesso quente e me cansa, descansa, dando-me a chance da espera. Logo eu que sou da dança me comprimo em celibato e erro tudo ao meu redor. Descompensada, quase dando risada dos atrapalhos que cometo te querendo. Que desvario é esse no bico dos meus seios, nos batimentos cardíacos, a falta de ar? Queria que a minha mão fosse a tua, meu dedo fosse o teu em penetra ação. Tens idéia da infinitude do meu corpo quando te imagino me tocar? Como se eu, um tanto miúda, ganhasse proporções de mar, de céu, de terras movediças e a velocidade da luz, lá longe, lá não sei onde! Com todas as músicas podendo vibrar em sons que ressonam de todo universo.
Eu abalo Sísmico.
Voce minha cisma.

Tuesday, October 17, 2006

Poeta fora da gaveta



Linda flor das Varandas de Botafogo,
que sol misterioso,
hoje,
atravessou as venezianas que lhe protegem a retina?
Como me envias uma pedra-poema diamante,
meticulosamente,
lapidada,
por mãos de ourives sábios,
cultivadores de saberes milenares e ocultos?
Sim,
guardarei no meu mais bem protegido cofre,
a sua jóia e seu esmero em criá-la.
É o mesmo cofre onde estão depositados nossos sonhos,
utopias e orações secretas,
a primeira fralda,
a mamadeira e a colher do primeiro mingau.
É um cofre de espelhos,
onde sempre nos achamos quando nos perdemos
e, temos muito bem-guardadas,
todas as regras dos jogos de esconde-esconde existentes.
É alí,
no mais recôndito esconderijo do coração,
nas recâmaras onde só filhos e amores entram,
que ficam bem dobradinhos os poemas,
até que um dia,
eles exijam vozes e apresentações.


TEXTO DE JOÃO LUÍZ-
Poeta e Assessor de Cultura da UNIVERSO.
Pintura de Alexandre Novis

A vida veja


A Vida Veja

e que essa carícia seja
em seu sorriso
o olhar preciso
de um beija-flor

sua poesia deixa
você nunca
morrer
de amor

e o silêncio agora
espelha em
seus olhos sonho, o brilho
ileso de uma boa idéia.


(p/Maristela Trindade)

Deste poema não traço maiores comentários, é uma forma de carinho possível que o Rocinante me permitiu. O trabalho que o ilustra é de Fabrice Langlade e expõe de maneira ainda mais clara a delicadeza que eu quis para o poema. É isso. Robson Leite

Classificado Literário



Precisa-se de moça
De fino trato.

Para momento agradável
De elaboração
estético-poética.




De mão leves

e idéias firmes.
Que saiba digitar e
passar os dedos
Sem machucar as palavras.

Que tenha habilidade
Para mobilizar a platéia.
Que saiba utilizar
Meios seguros
para finais bombásticos.

Que não seja escandalosa
mas entenda de prosa.
Que saiba manter a neutralidade:
Entre: maiúsculas e minúsculas;
orações subordinadas e coordenadas;
sujeito e predicado.

Que tenha objetivos diretos
Mas nunca dispense o objeto indireto.
Que saiba intrigar
Sem criar mutreta.

Que construa tramas
Sem destruir corações.
Que pratique boas ações
Principalmente as em alta.
Não precisa estourar o pregão
Mas que saiba evitar a queda da bolsa.
Pois boa moça
Não vacila com bolsa.

Que saiba dar
Tratos a bola,
ou então
Bolar contratos.

Armar bom contrato
É um raro exemplo
de fino trato.
Que seja por extensão
Contra os maus tratos.

Que saiba fazer
A ligação entre a defesa e o ataque.
Que não pratique faltas violentas
Nem precise jogar na zaga.

Ah!!!
E muito importante
Não seja zangada !
Que tenha alegria
E não entre em fria.

Que saiba dar passes
Na Zona do Agrião.
Se quiser aproveitar
Pode fazer uma boa salada
orgânica, sem agro-tóxicos.

De preferência, salada-de-frutas
Com as frutas da estação
Aproveitando que no Rio
É sempre verão.

Oferecemos:
Trama complexa
Enredo Vigoroso
Episódios Completos,
Sem finais incertos.
Suspense Garantido
Vaga no elenco
Direito autoral
e
Roteiro original !

Cosme Velho, 10 de outubro de 2006.

Ricardo Muniz de Ruiz


LAPA LAPA

lAPA LAPA
Para Maristela


Lapa tem lá
Lapa tem pá
Maristela tem pique
Mandou me chamar
Vou lá

Vou Lapa Lapa

Vou Lapa Lapa
Eu vou Lapa Lapa

Vou apelar na Lapa

Apelar na Lapa
Apelar na Lapa

Maristela disse
Maristela falou...

Maristela...........falou e disse

Apê lá da Lapa
Apê lá da Lapa
Apê lá da Lapa

Lapa tem pá...


João Saboya em dia de Ratos di Versos me dando mais um precioso presente poético-musical nessa vida. OBA!

Wednesday, October 04, 2006

Testamento mágico







Quando eu morrer, quero estar bem velhim
Quando eu morrer, quero estar bem feliz
Quando eu morrer, quero estar sonhando
Entre desenhos, rabiscos de giz

Quero estar brincando de ensinar
a tod'as crianças desse mundo
a enfrentar os problemas a fundo
a preservar a terra e o mar

Quando eu morrer, quero a paz na praça
Nada de injustiça, nem trapaça
nem políticos radicais ladrões
Apenas o amor nos corações

Quando eu morrer, quero as lindas canções
Cantando o bem-querer qu' exist' em mim
Quando eu morrer não vou perder você
Quando eu morrer, é pirilimpimpim

do belo,
Alfredo herkenhoff

Tuesday, October 03, 2006

Me inspira


botões

uma carta na manga
gola levantada pra engolir meu pescoço frio numa noite de inverno
manga cortada, descascada e disposta em versos,
pedaços rimando com pedaços, doces pedaços ritmicos


cartas! na manga que ainda não é doce
cartas que ainda não são marcadas
com versos íntimos e segredos públicos...
um gole de lágrima antes de dormir


gola que a cada gole se encolhe e me enforca
entorta a esquina, vira o aço dos meus nervos
que se faz e desfaz quando peco em pensar o quão pesado o meu passado ainda é


................................................................................por Saulo Machado...blog: Corpos na Lona